Arquiteto e Segurança Contra Incêndios: Funções, Normas e Responsabilidades
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Quando falamos em arquitetura, o que geralmente vem à cabeça são projetos bonitos, com boa iluminação natural e ambientes funcionais. Mas existe um outro lado do trabalho que poucos lembram: a segurança contra incêndios. E aí, o papel do arquiteto vai muito além da estética. Ele se torna peça chave para garantir que as construções estejam dentro das normas de proteção, reduzindo riscos e ajudando a salvar vidas.
A atuação do arquiteto em projetos de prevenção e combate a incêndios é exigida por lei em muitos estados brasileiros. Seja em edificações comerciais, industriais ou residenciais, é ele quem ajuda a planejar rotas de fuga, a correta compartimentação de ambientes e a integração dos sistemas de combate às chamas como os extintores de incêndio.
Vamos entender melhor quais são essas responsabilidades e por que é tão importante contar com um profissional preparado nessa área.
Entendendo o Projeto de Prevenção e Combate a Incêndios
Antes de tudo, vale explicar o que é exatamente um PPCI — Projeto de Prevenção e Combate a Incêndios. Trata-se de um documento técnico que reúne medidas obrigatórias para minimizar os riscos de incêndios em uma edificação.
Essas medidas incluem:
- Dimensionamento e instalação de extintores
- Hidrantes e mangotinhos
- Iluminação de emergência
- Sinalização de rotas de fuga
- Saídas de emergência
- Alarme e detecção de fumaça
- Brigada de incêndio (em alguns casos)
Esse projeto precisa ser elaborado por um profissional habilitado e aprovado pelo Corpo de Bombeiros. E é aí que entra a atuação do arquiteto.
O Arquiteto é Obrigado a Fazer Esse Projeto?
Não necessariamente. Embora o projeto possa ser elaborado por outros profissionais habilitados, como engenheiros civis, o arquiteto tem papel central porque é ele quem normalmente assina o projeto arquitetônico da edificação. Ou seja, ele conhece o espaço como ninguém.
Além disso, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) regulamenta que arquitetos estão aptos a elaborar projetos técnicos relacionados à segurança contra incêndio, conforme consta na Resolução CAU/BR nº 51 de 2013.
Então, mesmo que o arquiteto não execute diretamente o PPCI, ele precisa trabalhar de forma integrada com quem o faz. Afinal, o sistema de prevenção tem tudo a ver com a estrutura do prédio.
A Importância do Arquiteto no Planejamento das Rotas de Fuga
Um dos pontos mais críticos em caso de incêndio é garantir que as pessoas consigam evacuar o local com rapidez e segurança. Para isso, é essencial um bom planejamento das rotas de fuga.
O arquiteto deve pensar nessas rotas ainda na fase inicial do projeto, considerando:
- A distância máxima que uma pessoa pode percorrer até a saída
- Largura mínima das portas e corredores
- Acessibilidade para pessoas com deficiência
- Ausência de obstáculos no caminho
Além disso, a sinalização precisa ser pensada com inteligência. Isso inclui o posicionamento correto das placas, que devem estar visíveis mesmo em ambientes escuros ou com fumaça.
Compartimentação de Ambientes e Controle de Fumaça
Outro fator importante é a compartimentação de ambientes. Isso significa dividir a edificação em setores, com paredes corta-fogo e portas específicas que ajudam a conter a propagação das chamas.
O arquiteto define onde essas divisórias devem estar, conforme a função de cada espaço. Ele também precisa prever aberturas para ventilação natural ou mecânica, que ajudam a controlar o acúmulo de fumaça.
É comum encontrar projetos mal planejados, nos quais um pequeno foco de incêndio se espalha rapidamente por falta de compartimentação. Quando isso acontece, os danos são muito maiores — tanto materiais quanto humanos.
Escolha dos Materiais Certos
Esse é um detalhe que costuma passar despercebido por quem não é da área. Materiais de acabamento e revestimento também influenciam diretamente na segurança contra incêndio.
O arquiteto precisa considerar o índice de propagação de chama e fumaça de cada material utilizado. Alguns exemplos:
- Pisos vinílicos precisam ser classificados como autoextinguíveis
- Forros devem ter baixa propagação de fogo
- Revestimentos de paredes precisam ter boa resistência ao calor
Além disso, há produtos específicos que retardam a propagação das chamas, como tintas intumescentes e painéis corta-fogo. Cabe ao arquiteto especificar esses materiais corretamente no projeto.
Integração com Sistemas de Detecção e Alarme
O arquiteto também deve prever o posicionamento adequado de sensores de fumaça, alarmes e dispositivos de acionamento manual. Esses elementos não podem ser colocados em qualquer lugar — há normas específicas que determinam a altura, a distância entre os equipamentos e até a zona de cobertura de cada um.
A integração com os sistemas hidráulicos (como hidrantes) e elétricos (como iluminação de emergência) também é planejada em conjunto com o arquiteto. Isso garante que todos os sistemas “conversem” entre si de maneira eficiente.
Regularização e Aprovação no Corpo de Bombeiros
Sem um projeto bem elaborado, a edificação não obtém o Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), que é obrigatório para o funcionamento de diversos tipos de imóveis.
O arquiteto pode ser o responsável por acompanhar todo esse processo de regularização:
- Elaboração do projeto
- Protocolo junto ao Corpo de Bombeiros
- Adequações no canteiro de obras
- Correções solicitadas após vistoria
- Emissão de laudos técnicos complementares
É um trabalho técnico, mas também burocrático. Quem já tentou aprovar um projeto sozinho sabe o quanto é importante contar com um arquiteto experiente para agilizar todo o trâmite.
Vantagens de Incluir o Arquiteto Desde o Início
Muita gente ainda acredita que o arquiteto só entra em cena depois que o projeto já está pronto. Mas isso é um erro grave. Quando ele é incluído desde a concepção da obra, vários problemas podem ser evitados.
Veja algumas vantagens claras de incluir o arquiteto desde o início:
- Projetos mais seguros e em conformidade com a legislação
- Menor custo com adequações futuras
- Melhor aproveitamento do espaço
- Prevenção de multas e interdições
- Facilidade na obtenção de licenças
Além disso, o arquiteto tem visão integrada de todo o sistema construtivo. Ele consegue alinhar a estética com a segurança de forma inteligente, sem comprometer o resultado final.
Normas Técnicas que o Arquiteto Deve Seguir
Existem diversas normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) que tratam da segurança contra incêndio. Algumas das mais relevantes são:
- NBR 9077 – Saídas de emergência em edifícios
- NBR 9050 – Acessibilidade a edificações
- NBR 13434 – Sinalização de segurança contra incêndio
- NBR 5419 – Proteção contra descargas atmosféricas
- NBR 14276 – Brigadas de incêndio
Essas normas servem como base para os projetos e são cobradas nas vistorias do Corpo de Bombeiros. O arquiteto precisa estudá-las e se manter sempre atualizado, pois elas passam por revisões periódicas.
Arquiteto e Engenheiro Trabalham Juntos?
Sim, e essa colaboração é fundamental para o sucesso do projeto. O arquiteto planeja o layout, as rotas de fuga, os compartimentos e os materiais. O engenheiro complementa com cálculos estruturais, hidráulicos e elétricos.
É comum que o projeto de combate a incêndio envolva uma equipe multidisciplinar, formada por:
- Arquiteto
- Engenheiro civil
- Engenheiro elétrico
- Técnico de segurança do trabalho
Esse trabalho em conjunto garante que todas as soluções estejam integradas e que a edificação atenda aos mais altos padrões de segurança.
O Arquiteto Como Educador do Cliente
Além de projetar, o arquiteto também tem papel educativo. Muitos clientes não sabem da obrigatoriedade de sistemas de combate a incêndio, ou subestimam sua importância.
O arquiteto deve:
- Explicar a função de cada item do projeto
- Mostrar como os sistemas ajudam a salvar vidas
- Apontar os riscos de não seguir as normas
- Apresentar alternativas técnicas viáveis
Essa comunicação clara evita que o cliente tente economizar onde não pode — como na instalação de alarmes ou sinalização de emergência, por exemplo.